Monumento à História do México, Cancun, México, 2012

Promessas? Leva-as o vento.

Eu bem tentei divulgar uma foto por semana como recomendado no livro “The passionate photographer” de Steve Simon. Bem tentei! Ainda aldrabei as datas da publicação para ir publicando no calendário a cada semana na esperança de mais à frente compensar publicando mais que uma foto por semana, mas é óbvio que se demonstrou impossível cumprir. Acho que não seria muito complicado cumprir com o que é simplesmente sugerido pelo livro, isto é,  publicar uma foto por semana.Mas nunca foi exactamente isso que quis. O objectivo muito pessoal era publicar uma foto que fosse utilizada para falar de algo que me apetecesse, não necessariamente ligado à foto. Isso exige tempo que infelizmente não consegui espremer e comprovadamente não tenho. Deste modo, apenas posso dizer que daqui em diante a data da publicação corresponderá de facto à data da escrita o que dará também mais liberdade de escrever ao sabor do tempo, das novidades e da inspiração.

Apenas como exemplo, a fotografia deste post conjuntamente com uma dúzia de outras foi colocada neste site a 08/11/2016 com o fim de estarem já prontas para poder escrever algo assim que pudesse. Na lógica agora mudada, era para ser publicado com data de 9/6/2016. Um atraso de um ano! Q.E.D.

Posto isto, vamos ao que interessa.  A foto! E o que dela jorra ou que indirectamente inspira escrever…

História do México! Demasiado próximo dos EUA.

A foto é de um Monumento à História do México que fica numa rotunda na zona central de Cancun. Cancun cidade, não Cancun zona hotelera onde todo o turista é normalmente transplantado. É um monumento concebido pelo artista cubano José Delarra que é provavelmente mais conhecido pela escultura do Che na praça da Revolução em Santa Clara, Cuba. Como o nome indica, o monumento põe em evidência alguns dos acontecimentos históricos mais relevantes da histórica do México.

Apesar de ser localmente conhecida por La Licuadora (provavelmente por fazer lembrar as lâminas de um liquidificador), mostra algumas das diferentes etapas históricas da república mexicana tal como a época pré-hispânica, a época colonial, a independência, a revolução mexicana. Representados estão personagens centrais dessas épocas tais como Emiliano Zapata, Miguel Hidalgo, Benito Juárez, Lázaro Cárdenas, José María Morelos. De Zapata consta a inscrição Tierra y Libertad, reivindicação local e  internacionalmente ligada a La tierra es de quien la trabaja.

Através de Cárdenas teremos outras oportunidades de abordar esse período negro da história mundial em que as auto-designadas “democracias ocidentais”, nomeadamente e muito especialmente a francesa, negaram o apoio institucional à República Espanhola na altura da la Retirada iniciada a 27 de janeiro de 1939. Mas não o México de Cárdenas que ajudou na transferência de 150 mil republicanos para a América Latina, acolhendo parte e distribuindo generosamente vistos e passaportes para que os republicanos pudessem atravessar o atlântico de barco.

É este generoso México que fascina. Pela sua história indígena sempre presente, pela sua singular gastronomia que é uma festa para o paladar e visão, pela sua música e arte em geral, a sua alegria e forma de acolher latinas, pelos seus rituais mescla de crenças ancestrais animistas com os recentes rituais católicos localmente adaptados,… Pela sua fotografia, com o grande Don Manuel Álvarez Bravo e continuadores directos da sua escola tais como Lola Alvarez Bravo ou Graciela Iturbide. Terra de cores vivas e de grande modernidade na arte. Terra de Diego Rivera, José Clemente Orozco, David Alfaro Siqueiros e Frida Kahlo.

É assim fácil perceber porque foi a escolha de Gabriel García Márquez para seu exílio. Foi neste país e numa viagem da Cidade do México para Acapulco que despontou a primeira frase dos Cem Anos de Solidão. Assim, segundo a história-lenda contada pelo próprio García Márquez, deu meia volta e regressou à capital para escrever freneticamente. México, terra de acolhimento temporário de fotógrafos extraordinários tais como Paul Strand, Edward Weston, Tina Modotti e Cartier-Bresson. Paul Strand teve ainda a oportunidade de escrever o argumento para o filme redes filmado numa localidade piscatória perto de Veracruz e com fotografia sua.

Para além de toda a história pré-hispânica, há também esse grito de liberdade que foi a Revolução Mexicana. Toda a revolução digna do nome tem que ser a expressão de uma vanguarda e nisso a Revolução Mexicana também o foi nomeadamente através da incorporação de mulheres como Soldaderas. Estávamos em 1910!

Por fim, é preciso dizer que o mais relevante do monumento ficou inscrito na frase de Cárdenas absolutamente actual para qualquer Estado e que é importante repetir sempre: los recursos naturales del país deben servir para su propia prosperidad. Entregarlos a intereses estranjeros es traicionar a la patria. Ainda mais actual quando no México volta-meia-volta vem à discussão entregar a industria petrolífera nacional ao capital privado (estrangeiro). Infelizmente o mundo está cheio de traidores!

 

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