Encantadores de turistas, Cusco, Peru, 2009

A cidade de Cusco fica a uma altitude de ~3500 metros e para quem viva ao nível zero de Lisboa ou de Lima, voar directo para cusco e não permitir pelo menos um dia de aclimatação antes de iniciar a visita ao Vale Sagrado não é boa ideia e pode correr muito mal. Tal é imediatamente demonstrado assim que se aterra e se vê os não aclimatizados a arrastarem-se penosamente pelas poucas centenas de metros para sair do pequeno aeroporto. São umas centenas de metros que esgotam a energia do mais resistente por falta da quantidade de oxigénio a que se está habituado a menor altitude, e por falta de glóbulos vermelhos capazes de transportar o nível de oxigénio a que os músculos e cérebro necessitam.

Depois da falta de profissionalismo por parte da guia turística local ao não ter cumprido por várias vezes com horários pré-estabelecidos, decidiu presentear-nos com um jantar num restaurante local na praça de Armas, plaza mayor, já praça principal desde o império Inca e onde se situa a imposta catedral. Aproveitei para tirar umas fotos na parte final do jantar quando este foi animado por uma banda, por bailarinos locais e antes de ser empurrado por turistas mal-educados, também na esperança de congelar aquele momento no tempo. Instantâneos, porque tirar fotos é algo de bem mais complexo como pode ser visto no legado de Martín Chambi.

Martín Chambi, fotógrafo indígena do Peru

Para além do fotógrafo contemporâneo peruano Mario Testino mundialmente famoso pelo seu trabalho no mundo da moda, há outro fotógrafo de que só tomei conhecimento quando regressei a Lima e deparei com um livro, a preços absurdos, na vitrina de uma livraria. Esse livro chama-se Martín Chambi Photographs, 1920-1950 e é editado pela Smithsonian Books (de uma edição simultânea originalmente também em espanhol, creio que pela Lunwerg). Este livro tem prefácio de Vargas Llosa.

Martín Chambi foi um fotógrafo absolutamente extraordinário movendo-se com facilidade do retrato à fotografia de paisagem, documentando também os sítios arqueológicos peruanos e dando a conhecer ao mundo a cultura peruana e andina mais genuína. É muito claro em muitas fotos o domínio da técnica e da sua capacidade em utilizar a luz para tirar retratos ímpares.

Depois de ter conseguido obter esse livro e o da série photo poche, deparei-me com a possibilidade de comprar outro de igual dimensão ao da Smithsonian Books e publicado pela Fundación Telefónica. Para um fotógrafo mal conhecido porque pouco publicado, fica-se a baloiçar entre querer conhecer mais e na incerteza de se o livro valerá a pena por trazer nova informação, nomeadamente novas fotografias. Apesar de Chambi ter produzido dezenas de milhares de fotos durante a sua carreira, infelizmente certas edições são demasiado repetitivas e não acrescentam quase nada. No entanto não fiquei desapontado pois o livro é soberbo. Falarei em mais detalhe de ambos noutra oportunidade.

Como só descobri Chambi de regresso, não tive a oportunidade de visitar o seu arquivo fotográfico em Cusco  e que é actualmente dirigido por um neto. Aproveito a fotografia para falar de Chambi porque uma das suas fotos foi tirada exatamente na esquina perto do restaurante dos encantadores de turistas. A foto chama-se Amanecer en la plaza de Armas e foi tirada em 1925.

Amanecer en la plaza de Armas, Cusco, 1925
Amanecer en la plaza de Armas, Cusco, 1925

 

 

 

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