Em 2009 descobri o carnaval de Sesimbra. Após o rápido período juvenil acho que deixei de achar piada ao carnaval. Talvez devido a boa parte ser importada e copiada do Brasil, deixei de me rever nas palhaçadas periódicas da época. Talvez também em muito pelo facto de ter deixado de ser puto e, enquanto puto, felizmente ainda não levar a vida demasiado a sério.
O carnaval de Sesimbra é assim, meio copiado do Brasil, com as suas escolas de samba com nomes mais próximos do brejeiro do que do castiço. Assim é no domingo com o desfile das escolas de samba e a terça-feira com a repetição no dia próprio. No entanto é importante salientar a capacidade de adaptar e criar tradições próprias. Nota importante aqui é o cortejo dito “de fantasias de palhaço” em que uma enchente de palhaços desfila na marginal, começando na ponta da marginal da praia da Califórnia. Desde palhaços quase a ir para a cova a palhaços que ainda mamam no biberão de tão pequeninos, há todo um contínuo de todas as cores e variedades sobressaindo o mais alegre palhaço que por estranhas e irónicas aventuras da vida é, como bem se sabe, o pobre e não o palhaço rico. Para além de ser o desfile de palhaços provavelmente único que se repete a todos os anos, é um regalo para o cérebro. É impossível sair cabisbaixo depois de ver tanta animação e acima de tudo tanta cor. Funciona muito melhor que a maioria dos fármacos que pretendem arrebitar a alma.
Cegadas
Para além dos bailaricos noturnos para os que não desistem e de várias outras actividades de menor relevo, há algo de particular neste carnaval que são as cegadas que encerram o carnaval no sábado, no cineteatro municipal João Mota. As cegadas, de cariz inteiramente popular e protagonizadas por grupos amadores, trazem ao palco de forma rimada um apanhado das ocorrências políticas e sociais do ano. É portanto uma análise social e uma crítica política dos dirigentes autárquicos e nacionais. Para além do texto ser todo em rima, é também acompanhado por música executada com grande maestria, ao vivo e com letra adaptada de músicas muito conhecidas do público.
Sempre com grande prazer e a ano sim, ano talvez não, tenho retornado a Sesimbra e a ao seu magnífico carnaval. A fotografia não foi tirada no triste fim do carnaval que em Sesimbra afinal é no sábado seguinte, mas no fim do dia de domingo, no triste fim do desfile com sabor a uma espécie de quarta-feira transformada em segunda de cinzas, na rua da Fortaleza tendo por fundo a praia e um fim de dia molhado.