O expresso do ocidente, Peru, 2009

Há várias formas de viajar tal como há várias formas de turismo e tipos de turistas. Do avião, comboio, mota, carro, transporte público, bicicleta, ao percurso a pé, vão várias ordens de grandeza espaciais e temporais permitidas por cada tipo de transporte. O avião encerra uma forma rápida de deslocação entre continentes, entre o nível do mar e as grande altitudes, de tal forma rápida que o corpo humano não se consegue adaptar. É rápido quando é preciso, mas infelizmente não permite a consciencialização das mudanças paisagísticas e mudanças humanas que é afinal reflexo do que vemos e sentimos.

O carro, esse ícone maior do capitalismo e ainda motor das maiores economias do mundo, permite viagens relativamente rápidas mas cansativas sobretudo para quem conduz e se a condução é para fazer estrada. Apesar de todas as modernices, de todas estas formas nada ultrapassa o calcorrear das vielas das partes mais antigas e ainda as mais características da maior parte das cidades para se apreciar e sentir o país, as pessoas, as suas tradições e sobretudo as sempre refrescantes diferenças ainda existentes no mundo.

No entanto, o comboio é apesar da sua velhice um dos meus modos de transporte preferidos. Hoje em dia e cada vez mais, é espaçoso, permite acesso a energia eléctrica e internet, tem bar, casas de banho, pode-se caminhar e trocar de lugar e é cada vez mais rápido. Para além de todas estas vantagens, normalmente o percurso é visualmente muito mais interessante do que o que normalmente é possível de ser apreciado das auto-estradas. Do comboio ultra-rápido tipo TGV ao regional ou sub-urbano vai uma variedade imensa. E depois há os comboios que levam o seu tempo, oferecem uma paisagem absolutamente deslumbrante e até oferecem refeições a bordo. Destes, há infelizmente poucos exemplos no mundo.

O expresso do ocidente

Antes de nos metermos à estrada, nada melhor que ouvir as experiências de amigos. Foi assim que surgiu o conselho de fazer o percurso peruano de Cusco (antiga capital do império Inca) a Puno nas margens do lago Titicaca e já perto da fronteira da Bolívia de comboio em vez do autocarro. E assim surgiu a experiência de viajar no Andean Explorer da PeruRail. Este comboio É uma espécie de expresso do oriente no ocidente, no altiplano peruano.

O Andean Explorer demora umas excelentes 10 horas a fazer menos de 400 km e é uma magnífica experiência. Equipado de poltronas e decoração retro, tem as comodidades modernas e excelentes refeições a bordo. Junta-se a tudo isto a paisagem única do altiplano andino. As casas semeadas muito esparsamente e feitas de adobe parece que crescem da terra e aparecem no meio de uma paisagem árida e relativamente plana ao lado de montanhas e cordilheiras cobertas de neve. Frequentemente também aparecerem os típicos camelídeos andinos.

A cerca de metade do caminho o Andean Explorer faz uma breve paragem em La Raya que é o ponto mais alto do trajecto (4300 metros acima do nível do mar). Antes de chegar a Puno, passa ainda por Juliaca onde se pode apreciar um movimentado mercado ao ar livre, mesmo colado à linha de comboio e com as operações mercantis normais a decorrerem enquanto se passa.

Se há um ponto negativo a apontar será apenas o preço bastante elevado. No entanto pela experiência e pela paisagem é absolutamente a não perder para quem quer recordar esse percurso em grande estilo romântico e à moda antiga. Se o objectivo é a viagem e não o destino, o Andean Explorer é uma escolha perfeita.

 

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