Este blog é a concretização de uma das sugestões do livro “The passionate photographer” de Steve Simon, (New Riders, 2012) depois de ter ficado a cozinhar em lume brando desde que o li no ano da sua edição e serve propósitos muito próprios e profundamente egoístas.
Um deles é tentar forçar uma organização, ritmo e disciplina à minha toma de fotos. Serve também para não esquecer que antes de tomar fotos devo pensar no que quero exprimir, que história quero contar. Disciplina, portanto, em ver e sentir antes desatar a clicar.
Outro objectivo também muito egoísta é o de aprender a ver o mundo. Como dizia Dorothea Lange, “the camera is an instrument that teaches people how to see without a camera“. Assim é, de facto! Olhar, ver, observar, digerir, interiorizar…
No entanto e como já foi dito de forma perfeita por H-C Bresson, “Photographier, c’est mettre sur la même ligne de mire, la tête, l’oeil et le coeur” e para quem como eu, que sempre utilizou primariamente a razão em vez da emoção como fulcro, reorganizar estas coisas não é tarefa fácil. H-C Bresson disse também em forma de conclusão, “c’est une façon de vivre“. E esta é uma questão central porque este blog serve também, muito egoistamente, para escapar de um tipo de mundo que se poderá definir como centrado exclusivamente na tristeza do binómio comprar-vender e a que querem reduzir a nossa sociedade e a nossa existência. Esta é uma das funções superiores e transcendentais da Arte e da criação artística e portanto a política não será alheia aos retratos, pelo que fica a advertência de Joan Fontcuberta no seu livro “El Beso de Judas, Fotografía y verdad” (Editorial Gustavo Gili, 3ª Ed, 2015) ao referir-se à fotografia humanista de, por exemplo, Eugene Smith ou Sebastião Salgado:
“Ellos se dieran cuenta de que su misión no consistía en dar forma a la verdad sino a la persuasión. La verdad es un tema escabroso; la verosimilitud, en cambio, nos resulta mucho más tangible y, por supuesto no está reñida con la manipulación. Porque, hay que insistir, no existe acto humano que no implique manipulación. La leche que mamamos de nuestra madre, decía Joep Renau, ya es una forma de manipulación. La manipulación por tanto está exenta per se de valor moral. Lo que sí está sujeto al juicio moral son los criterios o las intenciones que se aplican a la manipulación. Y lo que está sujeto al juicio crítico es su eficacia.
Lo mismo puede afirmarse de la propaganda, otra palabra tabú sobre la que pesan, por parecidas razones históricas, las mismas connotaciones peyorativas. La difusión de fotografías de contenido social implica siempre un acto de propaganda, lo quiera el fotógrafo o no. Simplemente hay que asumir este proceso, que es inevitable. Sea consciente o no, el fotógrafo impregna su obra con su sensibilidad y con su ideología. No cabe la neutralidad pura.”
No filme “I robot” de 2004, baseado nos contos de Isaac Asimov e fonte enorme de coisas para pensar, há o seguinte diálogo entre o humano Spooner e o robot Sonny:
– I was frightened.
– Robots don’t feel fear. They don’t feel anything. They don’t get hungry, they don’t sleep.
– I do. I have even had dreams.
– Human beings have dreams. Even dogs have dreams, but not you. You are just a machine. An imitation of life. Can a robot write a symphony? Can a robot turn a canvas into a beautiful masterpiece?
– Can you?
Fez-me pensar em muito, de que partilho apenas duas ideias. Quem é afinal, nesta sociedade capitalista, o robot (que na sua origem Checa significa escravo) e, muito correctamente do diálogo, quem leva uma pálida e confrangedora imitação da existência? A outra ideia levou-me a recordar o filme de 2010 “La Grotte des rêves perdus” que documenta uma nova gruta com pinturas rupestres encontrada em 1994 em França. Fez-me pensar nas pinturas e na soberba qualidade apesar dos 30 mil anos…
Alguns comentários finais. Este blog será escrito em Português mas como se vê nesta informação, por pura preguiça, nem sempre traduzirei citações ou outras referências feitas em língua estrangeira. Neste blog, as fotos que eu tirar a mim próprio continuarão a chamar-se de auto-retratos e não de “selfies“. Qualquer crítica positiva ou negativa será bem-vinda, especialmente se o comentador meter algum empenho no comentário. Informação técnica acerca das fotos (tempo de exposição, f-stop, máquina, objectiva, etc) será inexistente pelo acima exposto.