Las casitas del barrio alto, La Paz, Bolívia, 2011

A Bolívia é um país extraordinário! País sui generis, com capital política, legislativa, administrativa e com sede de governo em La Paz (capital de facto) e com capital constitucional em Sucre (capital de jure, onde reside o tribunal constitucional). Ainda autêntico, quer do ponto de vista da sua paisagem quer da preservação da sua identidade cultural e acima de tudo autêntico pelo claro orgulho que as pessoas têm do seu passado e orgulho nas suas tradições. Aqui, a mudança política de loiritos, com mais parecenças físicas e mentais com os colonizadores do que com o seu povo, para um presidente indígena e ex-líder sindical dos cocaleros, é altamente relevante no processo. E depois há La Paz, nome extraordinário para uma cidade singular.

La paz fica localizada a uma altitude de pelo menos 3500 m, sendo que o aeroporto fica na cidade que já se encontra colada a La Paz e com o nome perfeito de El Alto. Esta cidade que cresceu nos seus arrabaldes devido ao despovoamento dos campos e que fica localizada num planalto, acima de La Paz e aos 4000 m.

Vista das suas colinas, à distância, La Paz tem ar de uma imensa favela com casinhas cor de tijolo, sem reboco, com ruazinhas sinuosas que sobem e descem desde o centro. De dentro, fica-se com a impressão que o crescimento da cidade foi efectuada sem planeamento, no completo caos e daí a quantidade imensa de ruas apertadas que ondulam ao sabor da orografia, do ímpeto do betão e da reais necessidades humanas. É preciso estar no alto e tomarmos a devida distância do pormenor para vermos que independentemente da rapidez e desorganização que tomou conta da cidade durante o seu crescimento, a cidade que se estende sobre um vale descendente, tem de facto ordem e organização. Ao longe pode ver-se a montanha mais alta da Cordilheira Real que é o Illimani e que, com o seu cume nevado de branco que contrasta com tudo o resto, fica perfeito num plano de fundo da cidade.

É costume os ricos construírem as suas mansões nas colinas sobranceiras às cidades, não só pela vista mais agradável, mas também porque nas cidades em franco desenvolvimento o smog ataca os pobretanas que ficam por baixo. Basicamente, segundo essas grandes leis da natureza, o lixo desce. Quer se trate de poluição atmosférica quer seja todo o tipo de lixo que as pessoas gostam de atirar para o chão quando se deslocam pelas ruas das cidades e que acumula na sua forma mais usual de polímero de plástico inorgânico.

Pois bem, La Paz deve ser provavelmente a única cidade do mundo e seguramente a capital onde os ricos moram abaixo dos menos ricos. De facto, a diferença em quantidade de oxigénio numas centenas de metros faz toda a diferença quando se respira a 4 mil metros em vez dos 3 mil e picos. O simples acordar durante a noite numa espécie de suspiro para encher mais o peito de ar é perfeitamente natural, antes da habituação à altitude.

Little Boxes

Little Boxes é uma canção composta pela estadounidense Malvina Reynolds e que foi popularizada por Pete Seeger. Há também a versão latino-americana de Victor Jara que é claramente superior e que se chama, está claro, las casitas del barrio alto. Aqui fica ela, com a devida introdução e explicação do próprio Jara. Custa-me sempre corrigir alguém com quem invariavelmente estou em sintonia numa absoluta concordância, mas a informação de Jara acerca da autoria da canção está errada. No entanto, esta canção mistura-se de forma perfeita, por ironia, com La Paz.

 

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