Adoro multidões em comícios, em manifestações, em desfiles, em comemorações de datas importantes e relevantes a serem a cada ano revividas e celebradas. Adoro a partilha de ideais comuns, de objectivos comuns, do calor que há na fraternidade humana. No entanto e, en passant, convém dizer que detesto a carneirada acéfala e abomino as modas.
Não entendo como nessa nova moda de tirar auto-retratos hoje em dia designados por selfies, alguém acha que fazer o que nessa mesma moda ficou designado por bico de pato pode ser lisonjeante ou ser esteticamente apelativo. Juro que não entendo! Troca-se a máquina fotográfica por um telemóvel. Troca-se um fio metálico que fazia disparar a máquina fotográfica por um controlo remoto, para depois se regressar a uma haste de metal/plástico. Quanto à novidade, é melhor verem esta foto de Francesca Woodman que tem mais de 40 anos!
Não entendo como a horda barbárica de ignorantes e mal-educados que enche certos museus como o Louvre, onde as pessoas tocam as obra de arte, acham que falar com o mesmo tom de voz que num café é normal, deixam lixo por todo o lado e acham que tirar um instantâneo com um fundinho de um genial retrato designado por Mona Lisa é melhor que utilizar o tempo a usufruir da fugaz presença de uma peça única que lhes está defronte ou, infelizmente, demasiadas vezes detrás. Ainda bem que os museus que querem educar e receber pessoas educadas começam a proibir os paus com que a horda tira selfies.
Abomino a maior parte das modas. Enquanto criança andei com calças ditas de boca de sino e lembro-me de serem absolutamente abomináveis. Apesar de esteticamente perceber o conceito e deste ser estilisticamente interessante quando analisado de uma forma estática, tinha o problema dinâmica de a cada passo o pano extra de uma perna bater no da outra e dificultar o próprio princípio básico de locomoção a que qualquer indumentária deveria estar primariamente sujeito… abominável portanto!
Acho interessante, apenas de um ponto de vista sociológico e antropológico, que um mar de gente fique a tirar fotos e a contemplar a renovada Vitória de Samotrácia talvez apenas porque encontre muitas outras pessoas a tirar fotos ou porque a foto se encontra destacada no guia do museu mas, no entanto, num pequeníssimo lanço de escadas imediatamente acima ignore um admirável fresco por Alessandro Filipepi, conhecido por Boticelli. Quando digo ignore, digo que ninguém que passa em frente da Vitória a ignora enquanto provavelmente 99% das pessoas não vê o extraordinário primeiro fresco da galeria que lhe está imediatamente adjacente.
Tudo isto a propósito da foto que tirei a barcos sobre um fiozinho de água sobre uma pequena ponte existente no Bürgerpark de Bremen. O parque de assinaláveis dimensões e muito bem cuidado fica perto da estação central e permite diversos tipos de actividades ao ar livre.