Aeroporto de Frankfurt, Frankfurt, Alemanha, 2013

Que fazer? Que fazer quando se tem várias horas de espera num aeroporto? Que fazer quando se regressa da Suécia, se tem várias horas numa escala no aeroporto de Frankfurt e se vem completamente acelerado pela quantidade de luz que se apanhou durante a estadia em Gotemburgo? Lê-se um bocado e fotografam-se as pessoas em transito…

“O princípio/ The beginning”

No ano passado foi publicado pela ESAD um livro bilingue português-inglês do fotógrafo Daniel Rodrigues com o título O princípio/ The beginning.

O livro tem dez capítulos, cada um correspondendo a uma reportagem concreta. Começa com futebol na Guiné-Bissau e acaba na Indochina. Pelo meio tem um capítulo com retratos de guineenses, outro acerca de uma tribo de índios da Amazónia, os Awá Guajá. O capítulo rapa de bestas mostra a captura de cavalos selvagens galegos, há um outro acerca d’o terceiro género, passando ainda por mostrar fotografias do Porto, de várias ilhas dos Açores e o outro lado do futebol no campeonato do mundo de 2014.

É um magnífico livro de capa dura,  de grande formato, com fotografias de grande nível, ao melhor do que se faz de melhor em todo o mundo e com óptima impressão.

Como português exemplar, sujeito às típicas condições do país, Daniel Rodrigues teve um início atribulado. Ganhou o prémio enquanto desempregado e teve até que vender a máquina para poder viver. No entanto dava imediatamente para ver a grande qualidade do Daniel enquanto fotojornalista pela foto que lhe deu o prémio da World Press Photo, na categoria daily life. Este livro vem apenas confirmar o que dava para suspeitar apenas por aquela foto. Qualquer pessoa se tirar muitas fotos acabará mais cedo ou mais tarde por tirar pelo menos uma entre o aceitável a boa. No entanto uma das coisas que distingue um profissional do entusiasta é a consistência e por conseguinte a qualidade de resultados.

Há no entanto outras qualidades que distinguem o bom fotojornalista das outras pessoas. A capacidade de mostrar o belo no comum, isto é, de acrescentar o extra ao ordinário e a capacidade de, dando-se às pessoas, conseguir tirar delas fotografias extraordinárias. Estas são duas delas.

Dois dos capítulos são com fotografias da Guiné-Bissau. A minha primeira experiência de África foi também com este país. Dizer que é um dos últimos na tabela do índice de desenvolvimento humano da ONU é referir uma escala para a qual somos normalmente incapazes de associar e percepcionar as  inerentes e tremendas dificuldades diárias de se viver num tal ponto dessa tabela.  As coisas mais básicas que deveriam ser asseguradas pelo Estado e que permitem que as pessoas se libertem enquanto sociedade para se livrar da pobreza não estão asseguradas. Quando cheguei a Bissau, não havia iluminação pública, rede de saneamento e água, rede eléctrica, rede pública de transportes, etc. Qualquer coisa que se pense que o estado assegura num país desenvolvido o mais provável é não existir de todo ou de forma muito incipiente em Bissau ou em qualquer outro país a nível semelhante da tal tabela.

É por isto e porque esta descrição se traduz num aperto do coração para o qual é preciso estar preparado e para o qual eu não estava que permitem apreciar o grande nível não só técnico, mas sobretudo artístico do Daniel, mas também e em muito a grande capacidade profissional do Daniel de conseguir fotos em circunstâncias humanamente muito peculiares e difíceis. Outra situação semelhante é a que ele consegue no capítulo acerca dos transexuais tailandeses.

Se este é o princípio, fica-se a saber que a continuação só pode continuar a ser brilhante. Como dizem os franceses: chapeau!

Leave a Reply